15 de dezembro de 2010

Violência no namoro

Decorreu hoje no Auditório da Escola Secundária de Amora mais uma palestra organizada pelo PPES, em colaboração com a psicóloga Andreia Santos, no âmbito da Educação Sexual.
Desta vez o tema foi a violência no namoro, infelizmente uma questão que está cada vez mais na ordem do dia.
De forma interactiva e apelando mais uma vez à participação dos alunos das três turmas do 9º ano presentes, a psicóloga Andreia Santos debateu causas, consequências e formas de reagir perante a violência no namoro. Para esta troca de ideias foram fundamentais dois curtos filmes: Pisar o Risco e Malmequer (que partilhamos convosco ao final desta entrada).
Muitos continuam a considerar a violência nas relações íntimas uma situação que surge com o casamento mas os mais novos provam o contrário, as agressões começam frequentemente na adolescência e incluem insultos, ameaças e mesmo bofetadas e pontapés, o que constitui um sério alerta de risco para a violência marital. Outro cliché que importa desmontar, é que apenas as classes menos favorecidas e as mulheres são vítimas desta situação, ainda que não haja dúvida sobre o predomínio do sexo feminino na contabilidade das vítimas.
25% dos jovens reconhecem que já foram vítimas de violência no namoro e o maior problema é que a maioria encara com normalidade a situação pois encontram justificações para violência em situações específicas, como os ciúmes ou a infidelidade: “Só fez aquilo porque estava descontrolado/a, perdeu a cabeça” ou “tem medo de a/o perder” são afirmações recorrentes e a violência sexual no namoro nem sequer é reconhecida como tal.
Claro que a agressividade não surge do nada: vivemos num mundo onde é muito mais normal resolver-se os conflitos ao murro e ao pontapé do que pelo diálogo. “Vários estudos internacionais sugerem que a proveniência de uma família já de si violenta é de facto um factor de risco”, confirma Carla Machado, investigadora da Universidade do Minho que estudou o tema em Portugal. “Contudo, não quer dizer que todos os jovens que vivenciaram essa situação se tornem violentos, há vários factores de possível compensação dessa influência.”

Apesar do muito que se progrediu em termos de condição feminina, as raparigas ainda são educadas para idealizar o amor. No entanto, uma das grandes diferenças entre a violência nas relações adultas e nos adolescentes é que as raparigas mais novas também são agressivas nas suas relações amorosas. “Isto não é só uma agressão da qual são vítimas”, faz notar Carla Machado. “Mas é verdade que as raparigas parecem acreditar mais que o ‘verdadeiro amor’ sobrevive a tudo e que vão ser capazes de mudar um parceiro abusivo. Claro que isto as pode levar a tolerar, desculpar e permanecer mais tempo em relações abusivas.”
“Há uma elevada violência contra as mulheres adultas, mas entre os adolescentes esta é biunívoca, ou seja, são agressivos uns com os outros”, confirma Maria Neto Leitão, professora na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra e coordenadora do projecto Usar e Ser Laço Branco. “Se eu já sentia, da minha experiência, que a violência tinha um enorme peso na vida das mulheres, apercebi-me de que era um problema tão grave que exigia prevenção entre as mais novas.”
Os grandes problemas são culturais pois “Continua a ser uma forma de afirmação social ter namorado”, confirma Maria Neto Leitão. “Tentamos mostrar-lhes que não têm de ter um namorado para se sentirem valorizadas mas é uma tarefa muito difícil, elas preferem ter um mau namorado a não ter namorado nenhum!”
“Os homens também são vítimas disto tudo, e estas não são relações dentro das quais eles se sintam bem”, defende Maria Neto Leitão. “Socialmente, são obrigados a desempenhar um papel que não os satisfaz, mas não têm outro! Eles comportam-se da maneira que acham que lhes é exigida. Tentamos no nosso projecto mostrar aos rapazes que, para serem homens, não têm de ser violentos. E ao recusar a violência, serão mais felizes. O problema é que mesmo as mulheres esperam deles que sejam violentos. É fundamental apresentar novos modelos de masculinidade aos jovens, ou eles vão continuar a pensar que não ser isto é ser homossexual. E no contexto de homofobia em que vivemos, eles preferem tudo menos serem homossexuais!”
Por violência não se entende apenas murros e pontapés, a forma mais comum é a violência emocional (insultos, humilhações públicas, ameaças, tentativas de controlo).
No namoro, a vítima interpreta esses actos de violência como ciúme, minimizando o episódio, acreditando que as coisas mudarão se o seu comportamento se adequar à situação. Os pedidos de desculpa que geralmente se seguem acentuam essa ilusão mas a violência alimenta-se dessa credulidade e intensifica-se no futuro.
Numa relação saudável ninguém manda no outro e ambos mostram afecto, respeito e apoio mútuo. É normal que entre um casal de namorados surjam conflitos mas é importante diferenciá-los das situações de violência. Os conflitos surgem em diversas ocasiões e resolvem-se através do diálogo e da procura conjunta de soluções. Não há que temer os conflitos, pois eles ajudam a construir uma relação saudável a dois.
Numa situação de violência, um dos membros do casal tenta exercer poder e controlo sobre o outro, não respeitando as suas ideias e opiniões. Ao princípio, quando ele/a apresenta um comportamento violento, pensa-se que teve um “mau dia”, que tem problemas com os pais ou na escola…mas que continua a gostar de nós, apesar de nos tratar mal!
Estes problemas costumam prolongar-se indefinidamente e piorar com o tempo. Devemos manter-nos alerta!
Muitas vezes aceitamos estar em relações violentas (e também toleramos que elas ocorram entre outros casais de namorados), porque acreditamos em certas “crenças e mitos”, que condicionam os nossos comportamentos e escolhas, apesar de não corresponderem à realidade.
Mas o que podem fazer pais e educadores para evitar esta situação? “Podem educar os filhos para serem assertivos e terem consciência dos seus direitos. Podem enfatizar a ideia de que o respeito faz parte integrante do amor.”
“Tudo passa por estar atento e mostrar disponibilidade para ouvir o adolescente e para o perceber”, explica Maria Neto Leitão. “Isto é um assunto muito ligado à sexualidade, e quando não desenvolvemos este trabalho desde a infância, na adolescência a situação pode complicar-se."
Tal como no casamento, também no namoro o medo da vítima é frequentemente um aliado do agressor. O receio de perseguições e retaliações acaba por levá-la a render-se ao domínio do namorado/a. No entanto, é importantíssimo que se saiba que há apoio disponível para quem o desejar, nomeadamente através de:

Linha de Emergência Nacional
Serviço de apoio gratuito, através do número 144 – 24 horas por dia. Proporciona alojamento de emergência e encaminha para recursos na comunidade

Linha Telefónica de Informação às Vítimas de Violência Doméstica
Serviço de informação, anónimo, confidencial e gratuito, através do número 800 202 148 - 24 horas por dia

APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
Disponibiliza apoio emocional, jurídico, psicológico e social a quem é vítima de crime e a seus familiares, através do número 707 200 077

GOSTAR NÃO É CONTROLAR E CIÚMES NÃO SÃO AMOR!
QUEM AMA CONFIA E RESPEITA!
DIZ NÃO HÁ VIOLÊNCIA NO NAMORO!

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